Paisagismo à beira-mar

Um projeto de paisagismo à beira mar é sempre estimulante. Veja este trabalho que detalhei aqui pra você!

O arquiteto termina a obra e pede que você transforme um corredor externo, onde há o muro divisório do terreno, em uma floresta que chegue tão perto do salão (estar/área gourmet), que se pode tocar as plantas com a mão.

É um local sombreado e com bastante vento. Saindo do corredor o terreno se abre para a imensidão da praia.

A ideia era que de dentro do estar/área gourmet as pessoas tivessem a sensação da tranquilidade e do frescor da floresta.

  • Ideias para o projeto

Para compor a ideia de uma floresta, a escolha incidiu sobre espécies com uma variedade de tamanho, cor, textura e volume. As dracena-fita, como eram as mais crescidas, fizeram a forração do muro alto de cimento. As demais plantas foram sendo colocadas de maneira aleatória, para que formassem um maciço natural, do jeito como nascem na floresta.

Paisagismo à beira mar – brainstorming

  • Sentindo o espaço

Para deixar as ideias fluírem de maneira natural e intuitiva, ora nos comportamos como visitantes atentos, ora nos colocamos no lugar dos clientes, e ainda procuramos sentir a vibração e o potencial daquele lugar.

Esse é um exercício indispensável! É a base para o desenvolvimento de um projeto assertivo, onde a observação e a sensibilidade estão presentes.

Importante, também, é registrar os locais de interesse fotografando e fazendo vídeos do local que receberá a intervenção paisagística, para que você possa usá-los como consulta.

Uma ação interessante, caso a residência já esteja funcionando, é perceber o estilo de vida dos moradores; observar o mobiliário e a decoração usados, porque essas informações ajudam a definir o projeto paisagístico.

Com as impressões do local captadas e a conversa com os clientes – de que falaremos a seguir -, você tem instrumentos suficientes para realizar um brainstorming. Deixe sua mente voar, avente várias possibilidades, brinque com o espaço e construa uma cena mental daquilo que te pareceu mais adequado.

conteúdo para inspiração

  • A conversa com o cliente

A conversa com o cliente é uma das bases do projeto. Não adianta você idealizar algo com os seus conceitos, seus gostos ou de acordo com as tendência do momento.

O lugar em questão fará parte da cena cotidiana daqueles indivíduos que vivem ali. E é a partir da rotina, do estilo de vida, das preferências e desejos desse grupo de pessoas, que devemos estruturar o projeto.

A primeira entrevista é a oportunidade de você conhecer o cliente e suas demandas. Pergunte a ele e aos demais interessados:

  • Vocês têm ideias para o paisagismo?
  • Há algum desejo especial para esse projeto?
  • Que plantas gostariam de ver nesse espaço?
  • Tem plantas de que não gostam?
  • Esse lugar tem algum propósito como, por exemplo, descanso? reuniões com familiares ou amigos?
  • Querem locais com sombra natural?
  • Gostam de frutíferas?
  • Gostam de plantas que atraem pássaros e insetos?
  • Quem se encarregará da manutenção cotidiana do jardim? Qual a disponibilidade dessa pessoa/pessoas?
  • Tem crianças? pets?

Essas perguntas ajudam a definir o perfil do projeto. E, a partir dessa definição e daquilo que absorvemos e interiorizamos em visita ao espaço, é que iremos desenvolver o projeto.

Deixe o cliente à vontade para dar ideias e expressar desejos. Afinal, quem vai usufruir do espaço é ele e seu grupo de convívio.

No caso deste projeto à beira mar, antes da conversa com os clientes, tivemos uma reunião com o arquiteto que projetou a casa e ele fez um pedido especial para determinado espaço do jardim. Imaginou um cenário de floresta para quem está no salão, área principal de convívio da casa, onde se encontram o estar e a área gourmet.

Então, a partir das coordenadas do arquiteto, que já tinha discutido esse detalhe com os clientes, definimos o estilo do paisagismo como um todo; cenário de floresta à beira mar!

Entendendo o espaço e suas características

O muro divisório da casa seria o pano de fundo para o espaço a ser apreciado do salão. Um corredor que iria receber uma vegetação exuberante, em grande profusão e variedade, mantendo uma passagem estreita, em meio às plantas, em direção ao mar.

Ali tínhamos algumas questões a considerar:

  • Vento – entre o muro e a casa formou-se um corredor de vento. A região – Rio Grande do Norte – apresenta ventos fortes e constantes, principalmente à beira mar.
  • Água e solo salobres (salinização da água e do solo) – Água e solo com muitos sais que prejudicam a saúde das plantas.
  • Incidência solar – Lugar de predominância de sombra gerada pela casa.

A escolha das espécies vegetais

  • As plantas

A partir da observação sobre as condições do espaço a ser trabalhado, podemos prosseguir para a escolha das plantas.

Neste projeto, elas precisam ser muito resistentes aos ventos fortes, às condições de salinização do solo e da água e apreciar meia-sombra.

Procuramos escolher plantas que têm uma fácil adaptação às condições do local.

Trabalhamos com as seguintes plantas:

Dracaena reflexa – dracena-fita

A dracena-fita é uma planta tropical muito apreciada por sua beleza e versatilidade no paisagismo.

  • Porte e Crescimento: É um arbusto semi-lenhoso, de porte médio a alto quando plantada no solo, podendo atingir de 1,5 a 3,5 metros de altura (em vasos, tende a ser mais compacta). Apresenta um crescimento lento a moderado.
  • Folhagem: Sua principal característica são as folhas.
    • Formato: Longas, estreitas, lanceoladas (em forma de lança) e alongadas, o que justifica o nome popular “fita”.
    • Disposição: Arqueadas e densas, formando aglomerados nas pontas dos caules.
    • Cor: Geralmente, as variedades mais comuns apresentam folhas em tons de verde-escuro, muitas vezes com listras ou bordas em tons de verde-claro, amarelo ou creme (como na variedade ‘Song of India’ ou Pleomele Variegata), o que confere um visual exuberante e elegante.
  • Tronco: Possui um caule ereto, que pode ser não ramificado ou ramificar-se com a poda.
  • Valor no paisagismo: a dracena-fita é uma planta extremamente valiosa no paisagismo e na decoração de interiores pela grande concentração de folhas no formato de fita.
  • Purificação do Ar: Estudos, como o da NASA, apontam que algumas espécies de Dracena contribuem para a purificação do ar, removendo toxinas, o que agrega um valor funcional além do estético.
  • Versatilidade e Adaptação: Pode ser cultivada tanto em ambientes internos, onde se destaca pela elegância e tolerância a condições de luz indireta ou meia-sombra, quanto em jardins externos. É ideal para climas tropicais e subtropicais, apreciando calor e umidade.
  • Baixa Manutenção: É considerada uma planta resistente e de cuidados relativamente fáceis, tolerando bem a falta d’água (mas não o encharcamento) e sendo mais rústica contra pragas e doenças em ambientes bem arejados.

dracena-fita (Dracaena reflexa)

Dypsis lutescens – areca-bambu

A areca-bambu é uma das palmeiras mais utilizadas e apreciadas no paisagismo global por seu visual tropical exuberante e sua excelente adaptabilidade

  • Porte e Crescimento: É uma palmeira que cresce em touceiras, formando densos aglomerados de caules múltiplos que brotam da base. Possui um crescimento rápido a moderado. Sua altura pode variar: em vasos e interiores fica tipicamente entre 1,5 a 3 metros, mas no solo pode alcançar até 9 metros.
  • Caules (Estipes): Seus caules são a razão do nome popular “bambu”. São finos, anelados (com marcas que lembram nós de bambu) e exibem uma coloração que varia do verde ao amarelado ou dourado, especialmente se expostos à luz adequada.
  • Folhagem: As folhas são o principal elemento ornamental.
    • Formato: Grandes, longas, em forma de arco (recurvadas) e do tipo pinada (composta por muitos folíolos finos, como penas).
    • Cor: Possuem um belo e intenso verde-brilhante, que confere leveza e graciosidade à planta.
  • Valor no paisagismo: Areca-bambu é uma planta essencial em projetos contemporâneos e tropicais, valorizada por sua estética e funcionalidade.

areca-bambu (Dypsis lutescens)

Colocasia gigantea – orelha-de-elefante

A orelha-de-elefante é uma planta escultural com suas folhas grandes e recortadas. Costuma ser protagonista nos projetos de paisagismo.

  • Porte e Crescimento
    Herbácea robusta, rizomatosa, de porte grande que geralmente varia entre 1,5 a 2,5 metros de altura em condições ideais. Possui crescimento vigoroso em clima quente e úmido.
  • Folhagem
    Característica principal da planta. As folhas são gigantes (podendo ultrapassar 1 metro de comprimento), coriáceas, com formato que lembra uma orelha de elefante, coração ou ponta de flecha. A cor é tipicamente verde-brilhante intenso, com nervuras bem marcadas. Existem variedades com cores escuras (roxo/preto) ou variegadas.
  • Tronco
    Não possui um tronco lenhoso. A planta é acaule ou possui um caule espesso e curto (rizoma) subterrâneo ou semi-subterrâneo, de onde partem diretamente os pecíolos (hastes) longos que sustentam as folhas.
  • Valor no Paisagismo
    Alto valor ornamental por seu aspecto escultural e tropical imponente. É utilizada como ponto focal em jardins, em grandes maciços para criar fundos densos ou para compor jardins temáticos (orientais, tropicais).
  • Versatilidade e Adaptação
    Adapta-se bem a Meia-Sombra ou Sombra Plena (luz difusa), sendo sensível a geadas e frio intenso. Algumas espécies toleram plantio em áreas alagadas ou margens de lagos, mostrando grande adaptação a diferentes níveis de umidade do solo.
  • Manutenção
    Média. Requer solo fértil e constantemente úmido. Não tolera longos períodos de seca. A manutenção consiste principalmente na remoção das folhas mais velhas e amareladas para estimular novas brotações e controlar a propagação.

orelha-de-elefante (Colocasia gigantea)

Phyllostachys edulis – bambu-mossô

  • Porte e Crescimento: É uma espécie de bambu gigante, podendo atingir entre 10 a 20 metros de altura em condições ideais, com potencial para superar 25 metros. Possui crescimento muito rápido, sendo do tipo alastrante (rizoma leptomorfo), que se espalha e forma bosques ou touceiras largas.
  • Folhagem: Apresenta folhas finas, estreitas e pontiagudas, de coloração verde vívido a verde-claro. A folhagem densa, porém delicada, proporciona sombra natural e movimento ao ser agitada pelo vento.
  • Troncos: Os “troncos” são chamados de colmos, que são cilíndricos e lenhosos. Possuem diâmetro significativo (podendo chegar a 12-15 cm) e são notáveis por sua textura aveludada quando jovens. O formato natural é retilíneo, mas é frequentemente curvado artificialmente quando jovem para fins ornamentais.
  • Valor no Paisagismo: Possui alto valor estético e arquitetônico. É um dos bambus mais utilizados em projetos de paisagismo que buscam imponência, verticalidade, elegância oriental e sombra. É ideal para criar cercas vivas altas, isolamento visual, barreiras contra vento e ruídos, e para delimitar áreas de contemplação.
  • Versatilidade e Adaptação: É extremamente adaptável, suportando uma ampla gama de climas, desde tropicais/subtropicais até temperaturas frias (tolerando até geadas leves). Desenvolve-se melhor a Sol Pleno, mas tolera meia-sombra. Pode ser cultivado em vasos grandes, mas seu porte máximo é alcançado em solo.
  • Manutenção: Média. Requer solo fértil, profundo e com boa drenagem, não tolerando encharcamento prolongado. A principal atenção é com sua natureza alastrante: em jardins, é altamente recomendável a instalação de barreiras subterrâneas para controlar a expansão dos rizomas. Requer regas frequentes quando jovem e adubação regular.

bambu-mossô (Phyllostachys edulis)

Philodendron bipinnatifidum – guaimbê

O guaimbê é um arbusto com folhagem grande e recortada que fica muito bem em vasos e se torna um ponto focal quando em maciços.

  • Porte e Crescimento
    Planta arbustiva, semi-lenhosa, de porte médio a grande. Atinge tipicamente entre 1,5 a 3 metros de altura quando adulta. Seu crescimento é classificado como moderado, e ela se desenvolve de forma escandente ou semi-trepadeira quando encontra suporte, mas geralmente forma um maciço volumoso.
  • Folhagem
    Extremamente ornamental e exuberante. As folhas são gigantescas, profundamente recortadas (lobadas), o que confere um aspecto de pluma ou leque. Possuem cor verde-escura brilhante e textura coriácea, sendo o principal atrativo da espécie.
  • Tronco
    Não possui um tronco tradicional. Com o tempo, a base da planta desenvolve um caule espesso, rugoso e semi-lenhoso, marcado pelas cicatrizes das folhas caídas. Essa base pode se tornar visível e contribuir para o aspecto escultural da planta.
  • Valor no Paisagismo
    É uma das plantas mais utilizadas em paisagismo tropical e urbano por seu visual sofisticado e imponente. Excelente para criar pontos focais, em grandes maciços ou para uso isolado em vasos de grande porte em varandas, pátios e interiores bem iluminados.
  • Versatilidade e Adaptação
    Alta versatilidade. Adapta-se bem a Meia-Sombra (ideal) e Sol Pleno (em regiões mais frias ou com sol menos intenso). É nativa do Brasil e Paraguai, tolerando bem o clima tropical e subtropical, inclusive baixas temperaturas (desde que não sejam geadas severas) e a salinidade de regiões litorâneas.
  • Manutenção
    Fácil a média. É rústica e resistente. Requer solo fértil, rico em matéria orgânica e muito bem drenado. As regas devem ser regulares, mantendo o substrato sempre levemente úmido. A manutenção se resume a podas de limpeza para remover folhas velhas ou danificadas.

guaimbê (Philodendron bipinnatifidum)

Syngonium Podophyllum – singônio

  • Porte e Crescimento: Planta herbácea, trepadeira e escandente, de crescimento rápido. Em vasos, pode ser mantida compacta (cerca de 30-60 cm) por meio de podas. Quando cultivada com suporte (como trepadeira) ou pendente, seus ramos podem atingir até 1,5 a 1,8 metros de comprimento (ou altura, se tutorada).
  • Folhagem: Caracterizada pelo formato de flecha (sagitado) nas plantas jovens. As folhas se transformam conforme a planta amadurece, tornando-se lobadas e subdivididas (com 5 a 7 segmentos). Possui grande variedade de cultivares, com cores que vão do verde-claro ao verde-escuro, incluindo tons de branco, creme, prateado e rosa (variegadas).
  • Tronco: Não possui tronco lenhoso. O que se observa é um caule delgado, longo e flexível, que se desenvolve como uma trepadeira. Emite raízes aéreas nos nós, que o ajudam a se fixar em superfícies ou permitem o desenvolvimento como planta pendente.
  • Valor no Paisagismo: É altamente valorizada pela sua versatilidade e variedade de cores, sendo um elemento essencial na tendência Urban Jungle. Usada para criar maciços baixos (forração), em cestas suspensas (pendente), ou tutorada para crescer verticalmente. As cultivares coloridas adicionam pontos de cor e elegância.
  • Versatilidade e Adaptação: Grande capacidade de adaptação. Ideal para o cultivo em ambientes internos (vasos), pois prefere Luz Indireta Brilhante ou Meia-Sombra. Adapta-se bem a climas tropicais e subtropicais. As variedades coloridas precisam de boa luminosidade para manterem a intensidade das suas cores.
  • Manutenção: Fácil a baixa. Requer solo fértil, rico em matéria orgânica e bem drenado. O substrato deve ser mantido levemente úmido, mas nunca encharcado. Pode ser podada regularmente para manter o porte compacto ou estimular o adensamento. Atenção: a planta é tóxica se ingerida, devendo ser mantida fora do alcance de pets e crianças.

singônio verde e rosa (Syngonium Podophyllum)

As plantas foram colocadas margeando o muro, de maneira aleatória, formando uma composição análoga à da natureza, criando um volume harmônico e provocando o movimento do olhar. Esse grupo de espécies vegetais agregou folhagens de formatos muito diferentes, quebrando a monotonia e a rigidez de um muro de cimento.

A variedade de plantas é um convite a pássaros e insetos, contribuindo para a biodiversidade daquele ambiente.

O efeito dessa composição encanta as pessoas pelo visual exuberante e contribui para o bem estar dos indivíduos transmitindo a sensação de tranquilidade e de frescor.

paisagismo à beira mar – cenário de floresta

Outras intervenções nesse mesmo projeto

Criamos uma cerca viva para proporcionar privacidade, porque o terreno não estava totalmente murado. Optamos pela trepadeira tumbérgia (Thunbergia grandiflora), muito resistente e de rápido crescimento, que trouxe cor para o espaço.

Como uma continuação da rusticidade da praia fizemos uma composição da bromélia macambira (Bromelia laciniosa), nativa do Brasil, com pedras da região.

cerca viva com tumbérgia e composição com macambira

Referências externas

https://casacor.abril.com.br/pt-BR/noticias/decoracao/floresta-particular-como-montar-um-jardim-tropical-em-casa

https://www.jardineiro.net/paisagismo-na-praia.html

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