Cidades esponja – atuação preventiva

Como paisagista e entusiasta de novas técnicas de sustentabilidade, que surgem como prevenção ambiental, não posso deixar de reverenciar o trabalho de Kongjian Yu, arquiteto, paisagista e urbanista chinês, que criou o conceito “cidades esponja” como prevenção ambiental.

O renomado arquiteto faleceu dia 24 de Setembro de 2025, vítima de acidente aéreo, a caminho do pantanal.

Sustentabilidade x danos ambientais

Enchente Rio Grande do Sul – 2024

O alerta sobre a situação de nosso planeta, em relação às mudanças climáticas e suas consequências, já foi dado! Eu poderia, aqui, citar vários acontecimentos desastrosos que vêm acometendo nossa “casa”, mas vou ficar, por enquanto, restrita ao infortúnio de nossos irmãos gaúchos, no ano de 2024.

AS CAUSAS

  • El Niño – O aquecimento anormal das águas do Pacífico provoca alterações no padrão de circulação da atmosfera, aumentando a quantidade de chuvas na região Sul do Brasil.
  • Aquecimento global – causado pela emissão de gases do efeito estufa e pela exploração não sustentável dos recursos naturais, intensifica os fenômenos extremos, como as chuvas torrenciais.
  • Bairros construídos em planícies de inundação – áreas planas adjacentes aos rios e córregos, que recebem regularmente água durante enchentes em períodos de chuva intensa.
  • Falta de manutenção – descaso na manutenção dos diques
  • Falta de planejamento – ausência de planos de ação para lidar com as enchentes.

O descaso das autoridades gera danos irreparáveis em todo planeta. Quem tem poder para uma tomada de decisão em prol da desaceleração no uso de produtos tóxicos, da redução de emissão de gazes de efeito estufa e da busca por novas fontes de energia renovável, que substitua os combustíveis fósseis por fontes de energia mais sustentáveis e limpas, não tem interesse em fazê-lo. Muitos setores da economia, dependentes de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural, resistem à mudança para fontes de energia mais limpa, porque perderiam lucratividade. E, justamente, esses são os setores da economia que vêm contribuindo, sistematicamente, com as mudanças climáticas.

Outra questão importante quando se fala em mitigar as mudanças climáticas é o surgimento dos conflitos geopolíticos. As nações para as quais essa mitigação vai contra seus interesses econômicos tendem a não cooperar na busca por soluções para enfrentar as mudanças climáticas.

Sabemos que não é fácil implementar acordos internacionais, seja qual for o assunto, mas os acordos firmados, até agora, colocando aqui foco no ‘Acordo de Paris’ de 2015′ e nas últimas COP, são fracos no sentido da cobrança em relação ao que foi acordado e deixam a critério das nações a escolha das medidas que vão tomar e como vão executa-las.

O mundo inteiro depende da desaceleração das mudanças climáticas para continuar a VIVER neste planeta e não a sobreviver. Portanto, é de suma importância que todos os países participem e colaborem na mesma medida para que isso aconteça.

Buscar novas soluções para minimizar os efeitos das mudanças no meio ambiente é papel do poder público, mas também da sociedade. Precisamos nos mobilizar e reivindicar ações efetivas de nossos governantes.

Já existem excelentes soluções para minimizar efeitos danosos de chuvas torrenciais, por exemplo, que se implantados, podem reconfigurar o curso das águas em áreas urbanizadas sujeitas a enchentes.

“Cidades esponja” – prevenindo catástrofes

O conceito “cidades esponja” do arquiteto Kongjian propõe ações que deixam os espaços urbanos – já muito engessados pelo concreto e, portanto, com muitas áreas não permeáveis – mais preparadas para chuvas torrenciais, ventos fortes e até para a estiagem.

A ideia é criar ilhas de vegetação com solo permeável que, em época de chuvas tenham grande capacidade de absorção da água e na estiagem possam lançar mão da água armazenada no lençol freático, de açudes e represas.

O conceito abrange o planejamento de cidades, preservando, em primeiro lugar, as áreas de vegetação existentes, na medida da necessidade daquele território. Depois é encontrar caminhos que a água possa percorrer naturalmente pela topografia, ou artificialmente por canalização. E, por último, criar áreas alagáveis, onde a água escoe sem causar danos.

Parque de manguezais de Sanya – China

Projeto de Kongjian Yu

Em vez de se basear apenas em infraestruturas rígidas e caras (como grandes galerias pluviais e canais de concreto que apenas escoam a água rapidamente), a Cidade Esponja utiliza a infraestrutura verde e azul para gerenciar o ciclo da água dentro do próprio ambiente urbano.

Características Principais:

  • Absorção: O solo, as superfícies e as estruturas absorvem a água da chuva no local, impedindo o escoamento superficial excessivo.
  • Armazenamento: A água absorvida é armazenada temporariamente para ser usada ou liberada lentamente, prevenindo inundações e combatendo a seca.
  • Filtragem e Purificação: O solo e a vegetação filtram poluentes, melhorando a qualidade da água antes que ela retorne aos rios, lençóis freáticos ou seja reutilizada.
  • Reutilização: A água capturada pode ser usada para irrigação, limpeza urbana e outros fins não potáveis.

O Conceito Fundamental: Infraestrutura Verde e Azul

O conceito que rege o planejamento das Cidades Esponja é a Gestão Sustentável de Águas Pluviais (GSAP), também conhecida como Infraestrutura Verde e Azul (IV/IA).

A ideia central é tratar a água da chuva não como um problema ou um resíduo a ser descartado, mas como um recurso valioso a ser gerenciado e retido localmente.

Infraestrutura Verde

Refere-se ao uso de elementos vegetais e do solo para absorver e filtrar a água.

ElementoFunção no Conceito de Esponja
Telhados VerdesAbsorvem a chuva, reduzem o escoamento, fornecem isolamento térmico.
Pisos PermeáveisCalçadas, estacionamentos e praças com materiais que permitem a infiltração da água diretamente no solo.
Jardins de ChuvaDepressões paisagísticas projetadas para coletar e filtrar o escoamento de áreas impermeáveis.
BiorretençãoÁreas de vegetação que retêm e filtram a água superficial antes que ela chegue aos rios.

Telhados verdes – contribuindo para a gestão da água das chuvas

1. Benefícios Ambientais e Climáticos

Esses são os impactos mais significativos, especialmente em áreas urbanas densas:

  • Redução do Efeito “Ilha de Calor Urbana”: Telhados e asfaltos convencionais absorvem e irradiam muito calor. A vegetação dos telhados verdes, por meio da sombra e da evapotranspiração (processo de “transpiração” das plantas), resfria o ar ao seu redor. Isso ajuda a diminuir a temperatura média de toda a cidade.
  • Melhora da Qualidade do Ar: A vegetação atua como um filtro natural, capturando partículas de poeira e absorvendo poluentes gasosos do ar, como o dióxido de carbono (CO2​), e liberando oxigênio na atmosfera.
  • Gerenciamento de Águas Pluviais: O substrato e as plantas absorvem e retêm grande parte da água da chuva que cai sobre o telhado. Isso reduz drasticamente o volume de água que escoa para o sistema de drenagem da cidade, diminuindo o risco de inundações e enchentes em períodos de chuva intensa.
  • Aumento da Biodiversidade: Criam novos habitats para insetos, pássaros e outras espécies, ajudando a integrar a natureza em ambientes urbanos que geralmente são carentes de vida selvagem.

2. Sustentabilidade – prevenção ambiental – benefícios

Os benefícios diretos para o prédio onde o telhado verde é instalado geram economia e melhor qualidade de vida:

  • Isolamento Térmico: O telhado verde funciona como uma camada isolante natural. Ele mantém o interior do edifício mais fresco no verão (bloqueando o calor do sol) e mais aquecido no inverno (mantendo o calor interno).
  • Redução do Consumo de Energia: Com um isolamento térmico eficiente, a necessidade de usar ar-condicionado e aquecedores é significativamente reduzida. Isso resulta em uma grande economia nas contas de energia elétrica.
  • Isolamento Acústico: As camadas de substrato e vegetação são excelentes para absorver ruídos, diminuindo o barulho externo, o que proporciona um ambiente interno mais silencioso e confortável.
  • Aumento da Vida Útil da Cobertura: A camada vegetal protege a membrana impermeabilizante do telhado contra a exposição direta aos raios UV e às extremas variações de temperatura. Essa proteção pode dobrar ou triplicar a vida útil da estrutura da cobertura.

3. Benefícios Sociais e Estéticos

  • Criação de Espaços de Lazer: Telhados verdes podem ser projetados como áreas de convivência, jardins, hortas urbanas ou até espaços de lazer, oferecendo uma área de relaxamento valiosa no meio da cidade.
  • Valorização Imobiliária: Edifícios com atributos de sustentabilidade, como telhados verdes, são frequentemente mais atrativos e possuem um maior valor de mercado.
  • Saúde e Bem-Estar: O contato com o verde, mesmo que no topo de um prédio, tem demonstrado ter efeitos positivos na saúde mental, reduzindo o estresse e melhorando o bem-estar dos ocupantes.

Infraestrutura Azul

Refere-se ao uso de elementos aquáticos para armazenar e transportar a água de forma mais natural.

ElementoFunção no Conceito de Esponja
Lagos e LagoasReservatórios naturais ou artificiais para captação e retenção temporária do excesso de água.
Canais AbertosSubstituição de tubulações subterrâneas por riachos e canais paisagísticos, que reduzem a velocidade do escoamento e permitem a infiltração.
Cisternas e TanquesSistemas de captação e armazenamento de água da chuva em edifícios ou bairros.

Sustentabilidade – prevenção ambiental – A mudança de paradigma

O planejamento tradicional foca no princípio “Drenar e Descartar”, onde a água é tirada da cidade o mais rápido possível através de tubos de concreto. Isso acelera o fluxo, sobrecarrega os rios e causa inundações em outros pontos.

A Cidade Esponja foca no princípio “Reter, Filtrar e Reutilizar”. Ela transforma a área urbana em um sistema hidrológico mais resiliente, onde a água é retida em diversos pontos descentralizados, garantindo que a cidade esteja mais protegida contra extremos climáticos (inundações e secas).

O objetivo final não é apenas a gestão de riscos, mas a criação de ambientes urbanos mais agradáveis, com mais áreas verdes, melhor qualidade do ar e aumento da biodiversidade.

Referências externas

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd9yz78vq15o

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-06/chines-criador-das-cidades-esponja-diz-que-brasil-pode-ser-referencia

https://revistapesquisa.fapesp.br/kongjian-yu-e-possivel-transformar-um-municipio-em-uma-cidade-esponja-em-cinco-anos/

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Referências internas

Paisagismo e Sustentabilidade

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